Localizada a 97
km de Maceió, a Escola Municipal São Rafael é a única no Distrito de
Pindorama, município alagoano de Coruripe.
Apesar da
simplicidade, a escola tem registrado bons resultados no Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), todos acima da meta nas últimas
avaliações. A escola alcançou média 4,8 pontos em 2011, quando a meta do
governo federal era de 3,8.
Uma das
explicações para o avanço é a mudança na realidade da vida dos alunos e
familiares através do projeto do governo federal que disponibiliza laptops para
cada estudante (Programa UCA).
Em Alagoas,
a São Rafael é a única onde crianças e adolescentes levam o laptop para
casa, inserindo a tecnologia no cotidiano da família e mudando a realidade da
zona rural alagoana.
Contando com
equipe de 20 professores, a escola funciona nos três turnos, atende 495
alunos da Educação Infantil a Educação de Jovens e Adultos (EJA), vindos da
zona rural de Coruripe. Ela foi uma das nove contempladas pelo Programa Um
Computador por Aluno (PROUCA), desenvolvido pelo Ministério da Educação desde
2007 e que foi implantado em Alagoas em 2010 na 2ª fase do projeto com o objetivo
de possibilitar a formação para a cidadania também com o uso das tecnologias.
O início do UCA
no Escola São Rafael ocorreu em agosto de 2010 com a entrega de 416 laptops. O
diretor da escola, Erithan Carlos Matias da Silva, na gestão há cerca de 10
anos, acredita e aposta na presença dos laptops como ferramenta significativa
para a melhoria do ensino, permitindo o crescimento do aluno. “Os alunos ficam
com a mente aberta. E posso afirmar que houve um crescimento no nível de
aprendizagem dos alunos.”
Ele conta que no
início do projeto todos acolheram os laptops com grande expectativa, inclusive
na esperança de uso da internet, o que nunca se configurou por questões da
gestão do Proinfo. “Agora a prefeitura está colocando um ponto de internet e
estamos comprando alguns roteadores. Mas a internet do projeto nunca funcionou,
o que limitou as propostas”, reclama.
Segundo o
diretor, o professorado ficou apreensivo no começo do projeto, mas participaram
das capacitações e hoje já conseguem adequar o uso dos laptops na realidade dos
planos de aula. “O professor usa livremente no horário que é conveniente em
acordo com a coordenação pedagógica. Não estabelecemos horários e disciplinas
em que o professor tem que usar os laptops. Cada professor ajusta de acordo com
sua dinâmica de sala de aula”.
Positivo e negativo
Para a
coordenadora pedagógica da escola, Flávia Silva Rocha, o projeto tem seu lado
positivo e seu lado negativo. O lado positivo está na disponibilização dos
laptops para a escola e a família. “O UCA é um diferencial para a escola,
e uma escola da zona rural onde ninguém imaginaria algo deste tipo. Entretanto,
computador sem internet não é a mesma coisa e nisso o projeto foi falho até
agora. Não tivemos suporte técnico e alguns alunos já terminaram seus estudos
aqui na escola sem ver de fato o projeto se concretizar em sua plenitude”.
Flávia destaca
ainda que todos os professores participaram da formação, mas alguns ainda têm
resistência a entrar no mundo da tecnologia. Quando entregam seus planos anuais
e a proposta de um projeto didático, ela solicita que pensem em como usar os
laptops no desenvolvimento das ações com os alunos.
Sobre o fato dos
alunos levarem os laptops para casa, diretor e a coordenadora explicam que
foi um trabalho importante reunir os pais para explicar o projeto e que os
alunos iriam levar os laptops para a realização de estudos e atividades.
Para Flávia Rocha, quando as crianças levam o laptop para casa, eles “mexem” e descobrem funcionalidades que os professores vão aprender com os alunos.
Para Flávia Rocha, quando as crianças levam o laptop para casa, eles “mexem” e descobrem funcionalidades que os professores vão aprender com os alunos.
Impacto social
Mãe de cinco
filhos, nascida em Penedo e criada em Bom Sucesso, a dona de casa Raquel Souza
da Silva Santos tem dois filhos em idade escolar e que estudam na escola São
Rafael.
Para ela, que
reside numa casa de taipa e planta macaxeira em frente a humilde moradia, seus
filhos vão ter um futuro melhor por estarem aprendendo coisas que ela nunca
aprendeu. “Eles trazem o laptop e ficam fazendo as tarefas. Fazem os slides da
professora de português e me mostram. Mas eu não quero aprender não. Deixo pra
eles esta coisa de computador”, afirma Dona Raquel.
Outro exemplo de
como o UCA muda a vida dos envolvidos, o estudante Eduardo, do 5º ano
vespertino frequenta a escola no horário da manhã para realizar simulados de
matemática e português, preparando-se para a Prova Brasil, que avalia o
desempenho das escolas a nível nacional. “Eu venho e fico aqui estudando. Tenho
que acertar tudo. Eu tinha terminado e fui pra casa, mas voltei porque quero
acertar tudo e to aqui fazendo de novo”.
A coordenadora
Flávia Rocha recorda que todos os dias vários alunos vêm para a escola em
horário contrário para estudar. “Eles usam a biblioteca e o laboratório de
informática para atividades orientadas ou livres. Podiam estar na rua ou na
lavoura, a maioria seguindo a saga de seus pais, mas estão aqui. Talvez este
seja um dos fatores da nota de nossa escola no Ideb”.
Segundo Fernando
Pimentel, coordenador do UCA/Ufal, este é o diferencial do projeto, mas que não
foi acolhido em sua totalidade, inclusive em Alagoas. “Os diretores têm receio
de que os laptops quebrem ou que sejam roubados, mas com esta postura a gestão
impossibilita o desenvolvimento de elementos sociais importantes, como a
responsabilidade com o bem público. Há também o comprometimento de um dos
objetivos do projeto, que não é alcançado: a inclusão social. Estamos fazendo
um trabalho de ‘formiguinha’, visitando as escolas, conversando com os gestores
e propondo uma formação continuada”.
Avaliando o
projeto, o coordenador do UCA na Ufal mostra-se preocupado com o futuro de um
projeto tão grandioso e que está mudando a realidade das crianças e de suas
famílias.
“O MEC não está
sinalizando uma continuidade do projeto e as secretarias estaduais e municipais
têm outras prioridades. Os gestores não conseguem vislumbrar os ganhos no
processo educativo dos alunos e como um projeto deste porte contribui para o
desenvolvimento da cidadania. Em vários municípios e no Estado os gestores não
fizeram sua parte, que era cuidar da infraestrutura, e este é um elemento que
compromete a continuidade do projeto”.
Ainda de acordo
com Pimentel, o Governo Federal não pensou numa política de continuidade, e nem
de manutenção dos equipamentos. De acordo com levantamento da Ufal, vários
laptops não funcionam mais somente com a bateria, precisam estar conectados
diretamente a fonte de energia.
“Em Alagoas o
sinal de internet é precário. Como desenvolver algo assim? E agora com os
tablets que serão distribuídos para alunos e professores do ensino médio, como
será?”.
Para Pimentel os
professores são guerreiros e desenvolvem projetos dignos de reconhecimento com
os laptops, mas afirma que muito mais poderia ser realizado.
Fonte: http://www.infoca.com.br/reportagens/laptops-mudam-cotidiano-de-escola-rural#sthash.gUcJ4pvc.dpuf
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